Coisas de RH: Liderança

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Ser líder é muito mais do que ter um cargo de chefia. Aliás, tem mais a ver com a influência que você exerce do que com cargo que você ocupa. Se você é capaz de inspirar alguém, acredite, é um líder. Não precisa ser necessariamente em um trabalho, nossas primeiras referências de liderança na vida são os nossos pais. Minha mãe sempre foi pra mim modelo de liderança na cozinha. Toma a frente, agita todo mundo e em trinta minutos sai um almoço de primeira. Ela se tornou referência entre os meus amigos, todo mundo adora ir lá em casa pra comer as delícias que inventa. Ela já ensinou várias receitas e vive trocando dicas com as minhas amigas e sem perceber, é vista como inspiração para muitos. Liderança é isso, inspirar e ensinar pessoas, despertar em alguém a vontade de fazer algo e dar autonomia para que faça.

Quando comecei na carreira de RH tive um líder incrível. Ele me deu algo que nunca vou esquecer: a oportunidade. Era o começo de tudo, eu estava no segundo semestre da faculdade e recém tinha completado dezoito anos. Na nossa primeira conversa, lembro de ter dito que não tinha experiência e estava com um pouco de medo. Foi então que ele me respondeu: “Eu só preciso saber se você tem vontade, porque o resto é consequência”. Aceitei e “meti a cara”. O famoso “ou vai ou racha” nunca fez tanto sentido, ali eu ia descobrir se realmente eu queria trabalhar no RH.
Me recordo com muito carinho desse primeiro gestor, que além de diretor, era professor. Eu admirava a sua educação com todos, não importasse o cargo. Ele era conhecido por ser um paizão de todo mundo, as pessoas entravam em sua sala e ficavam horas chorando as pitangas e ele continuava com a maior paciência do mundo.

Começamos a estruturar o RH e o primeiro passo foi centralizar a comunicação interna em mim. Inclusive, acho que ele tem muita participação nessa minha aventura de começar a escrever. Eu ficava maravilhada com os e-mails e comunicados que ele escrevia, com sua objetividade, clareza e nenhum erro de português. Ele corrigia meus e-mails, me ensinou a escrever, a me expressar e usar as palavras certas. Me direcionou, puxou a minha orelha algumas vezes, mas nunca desistiu de mim. E o melhor de tudo, ele era humilde. Me ensinou que ser líder é confiar nas pessoas que estão fazendo o seu trabalho e não querer vigiar tudo, se eu estava ali, era porque ele confiava em mim.

Esse diretor me dizia que de bobo ele só tinha a cara e o jeito de andar. Todo mundo amava trabalhar com ele, pois era sensato e muito humano. Fiquei quase três anos nesse emprego, quando recebi uma proposta na mesma empresa, mas num desafio bem maior. Quase recusei porque não queria “abandonar” esse gestor, mas ele tinha me preparado para tudo que estava por vir. Lembro que quando aceitei a transferência, ele me chamou, me falou muitas coisas boas e me apoiou na minha decisão. Dessa fase levo essas lembranças bonitas, além de um sentimento eterno de gratidão.
Parti para o novo desafio, por sinal muito maior, na mesma instituição. Conheci várias pessoas incríveis, tive vários líderes e muitos chefes. Dá pra ver certinho a diferença entre os dois tipos de longe. Os melhores líderes que já tive tinham em comum uma mesma característica: humildade. Pessoas com anos de experiência na área que davam importância e autonomia para a sua equipe na medida certa. Uma dessas pessoas hilárias me disse que um dia era pra eu dar um curso sobre folha de pagamento pra ela que não entendia nada. Essa pessoa trabalhou anos em uma baita empresa brasileira e me veio com essa, logo eu, na época uma simples assistente que mal dominava o meu processo. Essa humildade dela cativava as pessoas ao redor, pena que ela ficou pouco tempo. Aliás, essa era uma coisa em comum também, essas pessoas incríveis costumavam nos deixar rapidamente. Sofríamos muito com as trocas de liderança e toda vez era um desafio para se adaptar ao novo estilo de gestão.

Descobri nesses anos de RH, que aprendemos muito também com as pessoas que não admiramos. Está cheio de chefe por aí, espalhado pelas organizações e a maioria deles também possui algo em comum: o Ego. Pensam ser donos da razão, chegam na nova equipe querendo ditar regras e dizendo a clássica “está tudo errado”. Já tive chefe que não errava, só a equipe. Que não aceitava feedback. Crítica então? Era pedir pra ganhar um inimigo mortal.

Vivi pra ver chefe que conseguiu que a equipe inteira pedisse demissão, de tão “competente” que ele era. Até brincamos: “Qual vai ser o desse mês?”. Teve outro que tinha um talento incrível com as pessoas, mas vivia na Disney, o mundo caindo e ele lá fantasiando unicórnios e acreditando que estava tudo perfeito. No Departamento Pessoal, principalmente em uma grande empresa, você tem que tomar decisões rápido e o tempo inteiro, não dá pra ficar viajando no País das Maravilhas.
Havia também os engraçados, que eram ótimas pessoas mas totalmente perdidos, caiam de paraquedas no meio do problema e até entender já tínhamos resolvido.

Tive líderes que não conseguiram exercer um papel de gestão exemplar, mas colocavam a mão na massa para ajudar a resolver os problemas, faziam o operacional e então ficava tudo certo, pois era um braço a mais pra ajudar na loucura do dia-a-dia. Teve também aquele se achava um Deus na Terra, o clássico “Faz porque quem manda aqui sou eu” era a frase mais educada. Hoje lembrando dou risada, mas na época dava úlcera de tanta raiva. Gosto de pensar que tudo que a gente vive nos transforma de alguma maneira e sempre acontece na hora certa.

Tem pessoas que passam pela nossa vida e se tornam inesquecíveis, um dos líderes incríveis que tive era tão gente boa que virou amigo da turma e até hoje interage. Às vezes nos encontramos para relembrar os velhos tempos e dar risadas, um time de mais ou menos dez pessoas, uma equipe de Departamento Pessoal feliz. Era risada o dia inteiro e mesmo assim entregávamos nossa demanda em dia e com qualidade.

Aprendi muito com cada um desses líderes que convivi, a maioria deles se tornou inspiração, vez ou outra são lembrados em alguma conversa, quando surge aquela ideia boa para pôr em prática em outro lugar ou quando aparece uma dúvida que você sabe exatamente quem procurar pra te ajudar. Passamos a maior parte do nosso tempo no trabalho e já foi comprovado que pessoas felizes produzem mais e no mundo que estamos vivendo, onde as coisas acontecem muito rápido, não dá pra perder tempo e nem vida com o que não nos faz feliz. Observe ao seu redor, tem pessoas exercendo a liderança o tempo todo sem perceber. Tem muito profissional que não tem cargo nenhum de chefia, mas tem influência e o respeito dos demais. Às vezes pela experiência, ou pela empatia com as pessoas. Outras vezes pela dedicação com que exerce suas atividades, ou simplesmente por ter atitude. Ser líder vai além de um cargo de Coordenador ou Gerente, tem mais a ver com os sentimentos que você desperta nas pessoas. Lembre-se que é seu o poder de transformar e lapidar profissionais, de fazer o dia a dia leve e as pessoas se apaixonarem pelo que fazem, sem esquecer que mandar qualquer um manda, liderar é para poucos.

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